A avaliação de crianças com problemas comportamentais e emocionais é uma tarefa que exige não apenas um olhar clínico criterioso, mas também uma compreensão profunda das complexidades envolvidas na apresentação dos sintomas. Em muitos casos, sinais como irritabilidade severa, explosões de raiva e dificuldades de interação social podem sugerir a presença de diversos transtornos. No entanto, é comum que haja uma sobreposição de sintomas entre condições como o Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor (TDDH) e o Transtorno do Espectro Autista (TEA), tornando o diagnóstico um problema significativo para os profissionais de saúde.

Tanto o TDDH quanto o TEA apresentam sintomas como irritabilidade crônica, emoções emocionais e dificuldades em lidar com frustrações. Embora essas características possam ser comuns a ambos os transtornos, a origem desses comportamentos e a forma como eles se manifestam podem variar consideravelmente. No TDDH, por exemplo, a desregulação emocional é frequentemente reativa aos estímulos diários, enquanto no TEA as explosões podem estar mais relacionadas a dificuldades com mudanças de rotina ou sobrecarga sensorial.

A questão é que, em uma avaliação inicial, pode ser difícil distinguir se a irritabilidade de uma criança está mais relacionada a dificuldades na regulação emocional ou a um transtorno de desenvolvimento social. Além disso, outros transtornos, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e os transtornos de ansiedade, podem estar presentes, complicando ainda mais o quadro clínico.

Diante dessa complexidade, é fundamental que os profissionais de saúde mental realizem avaliações cuidadosas e abrangentes, evitando instruções rápidas ou diagnósticos com base em observações superficiais. A entrevista clínica detalhada, a aplicação de escalas de comportamento e a coleta de informações de múltiplos contextos, como escola e ambiente familiar, são essenciais para uma compreensão mais precisa do quadro clínico.

Além disso, o diagnóstico diferencial deve sempre ser uma prioridade. A sobreposição de sintomas entre transtornos, como o TDDH e o TEA, exige que os profissionais considerem múltiplas possibilidades diagnósticas antes de definir um tratamento. O uso de ferramentas diagnósticas padronizadas e a consulta a especialistas em desenvolvimento infantil e psiquiatria da infância e adolescência podem ser fundamentais para refinar a avaliação.

Desta forma, para garantir uma compreensão mais completa dos sintomas, é essencial que as avaliações não se limitem a um momento único. Muitas vezes, o comportamento de uma criança pode mudar ao longo do tempo, e sintomas que não são evidentes inicialmente podem se tornar mais claros com o desenvolvimento social e emocional.

A avaliação longitudinal – ou seja, o acompanhamento da criança ao longo de meses ou anos – é particularmente importante em casos complexos onde a sobreposição de sintomas dificulta o diagnóstico inicial. Essa abordagem permite que os profissionais observem como os sintomas evoluem e como diferentes contextos, como a transição para a adolescência, influenciam o comportamento da criança. Além disso, ao longo do tempo, as demandas sociais e escolares aumentam, o que pode trazer à tona características não evidentes durante uma infância precoce, como dificuldades mais acentuadas de socialização ou padrões rígidos de comportamento, típicos do TEA.

Outro aspecto fundamental na avaliação de crianças com sintomas comportamentais complexos é a abordagem multidisciplinar. Psicólogos, psiquiatras, pediatras, educadores e terapeutas ocupacionais devem trabalhar juntos para obter uma visão abrangente do quadro da criança e produzirem relatórios de acompanhamento para dar subsídio as avaliações de seguimento multidisciplinar. Cada profissional traz uma perspectiva única que pode ser vital para o diagnóstico e para o planejamento do tratamento.

Por exemplo, um terapeuta ocupacional pode identificar padrões sensoriais que indicam sobrecarga em crianças com TEA, enquanto um psicólogo pode observar padrões de pensamento catastróficos em crianças com TDDH. Essa colaboração entre diferentes áreas do conhecimento ajuda a criar um plano de tratamento mais eficaz e adaptado às necessidades individuais de cada criança e fundamentais para estabelecimento do diagnóstico definitivo.

Portanto, a avaliação de crianças com comportamentos disruptivos presentes em diversos transtornos e sintomas emocionais complexos requer uma abordagem cuidadosa, criteriosa e, sobretudo, longitudinal. A sobreposição de sintomas entre diferentes transtornos, como TDDH e TEA, dificulta o diagnóstico inicial e reforça a necessidade de um acompanhamento contínuo e detalhado. Os profissionais de saúde mental devem estar atentos à evolução dos sintomas ao longo do tempo e utilizar uma abordagem colaborativa e multidisciplinar para garantir que o diagnóstico seja o mais preciso possível e que o tratamento atenda plenamente às necessidades da criança.